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A crise financeira mundial de 2008/2009 criou novas e reavivou antigas preocupações em relação à importância e o papel das informações financeiras para análise dos negócios. Na análise das ocorrências da última crise financeira mundial, destacam-se os seguintes aspectos: não foi possível "parar" a crise; e não foi dado um "alerta" efetivo sobre o que poderia acontecer. Como conseqüência, houve perda de confiabilidade nas informações financeiras divulgadas.
Como reação à crise, discute-se a necessidade de maior regulação do mercado, principalmente na busca da integração e interpretação das informações das demonstrações financeiras que revelem a sustentabilidade dos negócios. Nesse contexto, informações não-financeiras devem passar a ser consideradas, assim como algum indicador sobre o risco de ocorrência de novas crises financeiras.
O tema central dos debates do Congresso Mundial de Contabilidade, realizado em Kuala Lumpur, na Malásia, em novembro de 2010, foi justamente a sustentabilidade como imperativo global.
Em sua palestra no evento, Paul Druckman, que preside o IIRC (International Integrated Reporting Committee, que estuda a elaboração de indicadores financeiros), falou sobre as dificuldades de criar indicadores de base financeira que possam ser comuns a todas as empresas, mesmo após sua segregação por segmento de negócio. A principal preocupação do grupo que lidera é de que não sejam criadas "fantasias" na prestação das informações financeiras.
País com 12 milhões de contadores, a importância da China no cenário mundial também ficou evidenciada no Congresso. Wang Jun, vice-ministro de Finanças chinês, explicou a preocupação das empresas locais em relação à adoção das IFRS (normas internacionais de contabilidade) e de relatórios financeiros padronizados. O ministro indicou 38 ações a serem desenvolvidas, dentre as quais: a identificação/retenção de talentos da contabilidade; adoção de legislação para convergência às melhores práticas contábeis; e a criação de novos procedimentos contábeis em função de mudanças na economia.
Frederico Diomeda, presidente da Federação Européia dos Contadores e Auditores de Pequenas e Médias Empresas, mencionou no Congresso projeto da entidade voltado à capacitação profissional para aumentar a qualidade das demonstrações financeiras desses empreendimentos. Já Dato' Hafsah Hashim, CEO da SME Corp. (Companhia de Desenvolvimento de Pequenas e Médias Indústrias da Malásia), comentou ser necessário haver um tratamento específico para as pequenas e médias empresas diante das questões social e de sustentabilidade que envolvem esses empreendimentos.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, o Congresso apontou cinco pontos básicos de reflexão:
1 – Distribuição do poder global – a nova composição de interesses, formada a partir da última crise e que foi personalizada pelo G20 (grupo das maiores economias do mundo), é que deverá estabelecer as diretrizes mundiais no desenvolvimento econômico.
2 - Recursos necessários - nos últimos anos, o petróleo vem sendo a commodity mais importante. Presume-se que os alimentos, minerais preciosos e a água serão os recursos mais desejados e escassos adiante. Estabelecer premissas de uso sustentável desses recursos é uma das tarefas do G20.
3 - Mercado de capitais no futuro - a globalização será diferenciada por regiões. A facilidade na movimentação de capitais globais e a adoção de práticas padronizadas para possibilitar a comunicação e o entendimento dos relatórios financeiros são tendências.
4 - Ecossistema corporativo - Pequenas e médias empresas serão multinacionais do futuro, especializadas em resolver problemas locais e conectadas com o mundo global. A responsabilidade pelo uso dos recursos escassos é global, e a continuidade de sua destruição em favor do desenvolvimento local será uma atitude condenada. Estabelecer limites para o uso dos recursos planetários é um desafio que estará na agenda do G20.
5 - Governança e governos – os governos devem cada vez mais se afastar das atividades de indústria e serviços. De outra parte, a atividade de fiscalização, monitoramento e aplicação de sanções deve ser executada pelos governos.
Ao final, concluiu-se que a busca de meios coerentes para sustentar todas as nações por região e a economia global como um todo será o grande desafio. Os controles de governança, de compliance e de assurance são críticos para a globalização dos negócios, e novos sistemas e princípios-base para a regulação dos mercados e das atividades que dão suporte a eles deverão ser incrementados.
Paulo Ricardo Pinto Alaniz - é Conselheiro do CRC-RS, diretor técnico do Ibracon e sócio-diretor de Auditoria da BDO no Brasil.