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Embalada pela crise e pelos gastos mais elevados do início do ano, a inadimplência da pessoa física subiu pelo quarto mês seguido e atingiu em janeiro 8,3% dos créditos do sistema financeiro, o maior nível desde maio de 2002. O destaque ficou para o segmento automotivo, cuja taxa chegou a 4,7% e bateu recorde. Mesmo com os atrasos em alta, os bancos promoveram significativa redução dos juros médios das famílias, que passaram de 58,1% para 55,1% ao ano, segundo o Banco Central.
A queda nos juros da pessoa física foi provocada pelo menor custo de captação dos bancos - que estão repassando aos clientes a redução da Selic - e também porque as instituições diminuíram o spread bancário, a diferença entre o custo de captação e os juros cobrados. Os altos spreads vêm sendo alvo de fortes críticas do governo.
Em janeiro, o spread dos financiamentos para a pessoa física ficou em 43,6 pontos porcentuais, ante 45,2 pontos em dezembro. Apesar da queda, ainda é um nível superior ao de outubro e novembro, quando a crise atingiu duramente o mercado de crédito brasileiro.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, afirmou que a redução no spread para pessoa física ocorreu como reversão de um movimento "defensivo" dos bancos no início da fase aguda da crise, em meados do ano passado. Segundo ele, as instituições elevaram o spread temendo a explosão da inadimplência. Conforme reportagem publicada ontem pelo Estado, os cinco maiores bancos do País também elevaram em quase R$ 7 bilhões as provisões para créditos duvidosos no quarto trimestre de 2008.
Altamir disse, no entanto, que, como o pior cenário não se confirmou, os bancos têm devolvido parte da alta do spread em janeiro e também em fevereiro. Nos oito primeiros dias úteis de fevereiro, o spread médio da pessoa física caiu para 42,7 pontos. "O padrão de inadimplência hoje é mais alto, mas está dentro da normalidade. A partir dessa observação, instituições fizeram análise de risco e começaram a reduzir as taxas", disse Altamir.
No segmento de veículos, segundo Altamir, o crescimento reflete o "envelhecimento" da carteira, mais sujeita a atrasos. Além disso, diz ele, há uma migração desse tipo de financiamento para o leasing, cujos atrasos não são apurados pelo BC. Empréstimos novos tendem a reduzir a média de inadimplência e, como o movimento hoje é fraco no crédito tradicional de veículos, a média de atrasos tende a subir.