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A Fundação de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) aponta a valorização do real frente ao dólar como um dos vilões da desindustrialização. Embora em 1994, durante o Plano Real, o câmbio estivesse em R$0,80 em termos nominais, hoje, em termos reais (considerando a evolução da inflação), está pior do que naquela época. Já comparado com o dólar incluído em uma cesta das 13 principais moedas, o real vale mais hoje do que em 1998, descontada a inflação no período.
Na opinião do economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, o dilema de não mexer no câmbio para segurar a inflação a curto prazo acaba por prejudicar a própria formação do preço da moeda. Isso porque corrói seu valor real e agrava o problema.
Seguindo a tendência de diversos setores, a indústria da construção já começou a substituir parte da produção nacional com importações para fugir do câmbio valorizado.
- Temos fronteiras abertas. A atual conjunção faz com que a importação de produtos acabados seja mais vantajosa que produzir aqui - afirmou o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco), Claudio Conz.
Mas nem as importações parecem resolver o caso de algumas empresas. O vice-presidente da Teka, Marcello Stewers, afirmou que não conhece companhia que tenha conseguido compensar os custos de produção com importações. Comprar lá fora ajudou a empresa a reduzir parte desta despesa no mercado interno. Mas a situação do câmbio levou-a a se voltar para o mercado nacional. Depois de exportar até 40% do que produzia, a Teka hoje não vende mais do que 4% para o exterior.
- O Brasil caminha para a desindustrialização - alertou Stewers.
O diretor comercial da Dudalina, Ilton Tarnowski, afirmou que, graças às importações de tecidos finos, de alto valor agregado e que não se encontram no Brasil, a empresa tem conseguido diluir seus custos e garantir a competitividade das exportações. A Dudalina também tem investido em máquinas, inovação e nas suas marcas para driblar o problema.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, evita a palavra desindustrialização, mas reconhece que o processo de importação de produtos acabados em detrimento dos componentes leva o país a este caminho no futuro. Na avaliação do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o Brasil vive um período de transição.
- Trata-se de uma discreta redução do nível de industrialização. Parece começar a surgir no horizonte uma tendência, dada a evolução dos números dos últimos meses - comentou Castro. (Vivian Oswald e Eliane Oliveira)