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A inflação dos serviços no Brasil, que correspondem a 67% do Produto Interno Bruto (PIB), está cada vez mais alta, e os salários do setor vêm crescendo muito acima da produtividade. O IPCA acumulado em 12 meses dos serviços atingiu 9,2% em janeiro, comparado a 6,22% para o índice como um todo e a uma deflação de 1,92% dos bens duráveis. De junho de 2005 a setembro de 2011, os salários reais do setor de serviços subiram 41%, enquanto a produtividade aumentou apenas 15,8%.
Para diversos economistas, o superaquecimento do setor de serviços coloca o Banco Central (BC) numa situação extremamente complicada para gerir a política monetária. Esta semana, em mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC deve cortar a Selic, hoje em 10,5%, em pelo menos 0,5 ponto porcentual.
Na sexta-feira, em meio à enxurrada de liquidez que os bancos centrais dominantes vêm jogando na economia global, à consequente pressão de valorização do real e de outras moedas emergentes e às medidas do governo brasileiro para conter a valorização, o mercado futuro de juros indicou que o corte da Selic poderia ser maior que 0,5 ponto - neste caso, o próximo degrau é de 0,75 ponto porcentual, o que jogaria a Selic no nível de um dígito, a 9,75%.
Em contraste com a disposição do Copom de cortar a taxa básica, as expectativas de inflação para 2013 vêm subindo. Saíram de 4,5% em agosto para 5,11% na última coleta diária do BC. Isso indica que, mesmo com o recuo das expectativas de inflação para 2012, que hoje estão em 5,24% depois de chegarem a superar 5,6% em outubro, o mercado vê o IPCA voltando a subir mais à frente. E o principal vilão, para muitos analistas, é justamente a inflação de serviços, que não dá sinais de esmorecimento.
Para o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da gestora Opus, a estratégia anti-inflacionária do BC é altamente dependente da evolução do quadro internacional. Na sua visão, o Copom está acomodando a alta inflação dos serviços porque ela está sendo compensada pelo preços das commodities e dos produtos industriais.
Os primeiros caíram bem desde um pico no primeiro semestre de 2011 e, apesar de alguma recuperação mais recente, têm prognóstico de estabilidade. Já os preços industriais estão deprimidos pelo mau desempenho econômico dos países avançados, os grandes consumidores.
O risco, para Camargo, é uma reversão dessa tendência favorável de commodities e manufaturados. "Se houver uma alta de commodities, por exemplo, como a inflação já está alta, vai ficar muito difícil de segurar." Ele nota que a inflação de serviços sobe gradativamente, mas também é muito lenta para cair.
Desvio de rota. Camargo é um entre vários economistas que veem a inflação num nível mais alto nos próximos anos, possivelmente em torno do intervalo de 5,5% a 6%, mas ainda abaixo do teto da meta de 6,5% (supondo que commodities e produtos industriais se comportem).
Nessa visão, o Copom, apesar de oficialmente comprometido em trazer o IPCA de volta ao centro da meta de 4,5%, estaria mais preocupado em evitar um crescimento muito baixo nos próximos anos - o PIB de 2011, a ser divulgado na terça, não deve superar 3% - e, sobretudo, combater a sobrevalorização do real, que solapa a indústria. Os altos juros brasileiros, que atraem capitais especulativos, contribuem para derrubar o dólar.
Para alguns, como o próprio Camargo, a situação extremamente anômala de superliquidez internacional justificaria até certo ponto o desvio de rota do BC brasileiro, que também ocorre em grande número de países.
Mas fatores internos também podem estar provocando a forte inflação de serviços no Brasil. Em recente artigo no jornal Valor Econômico, Tony Volpon, diretor do Nomura Securities, diz que o Brasil está sofrendo um "choque de demanda por serviços", que poderia estar ligado à alta da renda e a novos hábitos de consumo dos que ascenderam socialmente.
Volpon acha que a oferta de serviços vai gradualmente alcançar a demanda, mas, enquanto isso não ocorre, o BC deveria explicitamente dizer que está aceitando uma inflação de 5,5%, por causa do "choque de demanda" - o que já foi feito no passado em relação a "choques de oferta".
Ele nota também que o principal canal de transmissão do choque de demanda para o resto da economia é o mercado de trabalho, já que o setor de serviços é o mais intensivo em mão de obra. Isso está ligado, claro, à forte queda da taxa de desemprego. Há, no entanto, outros diagnósticos, menos otimistas, sobre o aquecimento dos serviços.