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Não faz muito tempo que a caderneta de poupança era — literalmente — um livrinho onde eram registrados valores poupados. Também não faz muitos anos que pagávamos quase todas as despesas maiores com cheque. De lá para cá, surgiram cartão de crédito, pagamentos por aproximação, QR Code, carteiras digitais, Pix. A digitalização, segundo especialistas, não acabou. Pelo contrário, está só começando.
A professora doutora em Finanças da USP Elaine Borges defende que o maior uso da tecnologia Blockchain (banco de dados compartilhado que registra as transações dos usuários) vai revolucionar o sistema financeiro:
— Até ontem, a gente dependia de bancos para tudo. O Blockchain permite que a gente não precise mais de uma autoridade central para intermediar as nossas relações. E por que ele é tão transformador? Porque é impossível falsificar, resolve o problema das fraudes.
Elaine explica que a tecnologia permitirá que as finanças sejam descentralizadas, com a realização de transações diretas entre cidadãos. Por causa disso, sugere que os bancos terão que se reinventar.
Na mesma linha de raciocínio, Luiz Fabbrine, líder da área de finanças da consultoria Bip, acredita que as transações com criptomoedas serão predominantes em breve:
— Bancos centrais de diversos países conduzem estudos para emissão de moeda digital com segurança maior, quando comparado a outras criptomoedas, com reserva de valor. As vantagens são o menor custo com emissão do papel-moeda, logística e a redução de violência social.
Daniel Peres Chor, CEO Tropix, marketplace de NFTs (token não fungível, na tradução para o português) de arte, acrescenta que essa tecnologia pode aumentar o uso de criptomoedas:
— NFT é um registro, espécie de cartório virtual, em que você consegue registrar uma obra digital ou física, um ativo financeiro, um apartamento, seja lá o que for. Quando começa a ter todos os ativos do mundo registrados por NFT, ela vira meio de pagamento.
Depoimento: Vivian Almeida, economista e professora do Ibmec RJ
"Quando falamos em tecnologia 5G, com volume de transações de dados muito intenso, saímos da lógica da prateleira, de produtos e serviços prontos, e vamos para a lógica de plataformas exclusivas para a gente, como as de streaming. Isso pode transformar a economia, na medida que o 5G impacta toda a lógica de consumo. Ao reduzir o processo de tomada de decisão, a nossa vida é facilitada, com mais tempo disponível para enxergar outros aspectos que a correria do dia a dia não permite".
Cada vez mais, o Metaverso (mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais) deixa de ser enxergado como algo ficcional e assume relevância sob a perspectiva econômica, opina o advogado Claudio Miranda, do escritório Chalfin, Goldberg & Vainboim, que atua com mercado de capitais e direito bancário. Para ele, é possível considerar que o gasto de dinheiro com o virtual venha a superar o com o “mundo real”.
— A compra de bens para “avatares”, assim como o desenvolvimento de produtos e serviços nesse universo, não encontra limites físicos e operacionais, seja de tempo, de espaço ou de matéria-prima, como acontece na realidade física — explica Miranda.
Esdras Eler, coordenador de tecnologias do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação, indica que as marcas vão, simultaneamente, lançar produtos no mundo físico e virtual, para que o avatar possa consumi-los:
— Recentemente, uma operadora de telefone lançou loja virtual no Metaverso para que pessoas possam adquirir produtos desse universo. O digital pode ser uma forma de validar ideias antes de lançar novos produtos no mundo físico.
Para quem se assusta com essa digitalização, o coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da FGV, André Miceli, traz um alerta:
— A gente já gasta dinheiro no mundo digital para armazenar fotos e arquivos, por exemplo. Vamos continuar e intensificar essa prática.